PARTIDO COMUNISTA DOS TRABALHADORES BRASILEIROS
!!!
Defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores brasileiros e demais oprimidos do mundo inteiro.
PARTIDO COMUNISTA DOS TRABALHADORES BRASILEIROS
!!!
COMUNICADO FRT
EDUARDO PAES DEMOLIÇÕES S.A.
O Brasil rumo ao precipício: socialismo ou barbárie
Com uma taxa de desemprego oficial acima dos 14,6%, a subocupação ultrapassando os 30% da força de trabalho no país, desinvestimentos e fugas de capitais recordes (como no caso da multinacional Ford, mas não só) vemos agravar o desastre social que a cada dia se potencializa no Brasil de Bolsonaro-Paulo Guedes-Militares, deixando patente o verdadeiro fracasso do austericidio neoliberal que tomou conta do mundo há mais de 40 anos, como o regime de acumulação da burguesia "alternativo" ao fracasso da utopia "keynesiana". Somado às consecutivas altas exorbitantes dos preços dos alimentos, gás de cozinha e outros itens básicos de consumo popular, que segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), ultrapassou os 16,41% nos últimos 12 meses (maior inflação dos preços de alimentos desde 1992), expressão da estrutura dependente, subdesenvolvida, reflexa e voltada para fora, de nossa economia, certamente entramos em tempos turbulentos do regime burguês brasileiro. O avanço do processo de queima de trilhões das reservas internacionais pelos mafiosos que dirigem a política econômica em beneficio dos grandes magnatas, aumento da divida pública em relação ao PIB e perda de dinamismo da economia, são potentes combustíveis para o alastrar da crise. A generalização da crise estrutural do capitalismo mundial, que por aqui se expressou pelo fim do “boom de commodities”, estabeleceu um caldo de cultura caótico tanto econômico, como politico e socialmente. As políticas de arrocho neoliberais, posto em marcha por aqui pelo capital financeiro, demais frações oligopólicas das classes dirigentes dos países imperialistas e as burguesias "brasileiras", desde os anos 1990, baseadas na valorização cambial, elevadas taxas de juros, sucateamento de estratégicas empresas estatais, privatizações, austeridade permanente, enxugamento da máquina pública, sucessivos superávits primários para privilegiar o parasitismo da divida pública, decomposição do mercado interno, etc; tem recrudescido o processo avançado de desindustrialização do país, desestruturação do parque industrial e reprimarização da economia nacional, fazendo o país caminhar para o retrocesso de quase 100 anos em suas forças produtivas e no padrão de acumulação. O Brasil já sofreu períodos históricos de grande vulto, em relação a regressão econômica e social, quando do fim dos ciclos da cana, do minério e do café, algo típico do capitalismo tardio, dependente, de via colonial e atrófico, voltado para complementar os países centrais e sem um projeto nacional autônomo próprio.
No entanto, a gravidade do atual momento em que vivemos se baseia no fato de que, tal retrocesso em nosso nível industrial e de forças produtivas, se combina com uma sociedade altamente urbanizada, em que as contradições socioeconômicas beiram o insuportável para as massas. Uma coisa é o Brasil de economia primária-exportadora nos primórdios século XX, com uma população predominantemente rural; outra bem diferente, é um país retroceder a praticamente tal estágio econômico quando mais de 84% de seu povo habita os centros urbanos, demandando inserção no mercado de trabalho, serviços públicos, etc., num contexto de maquinização do campo, que impossibilita absorção de grandes contingentes de força de trabalho humana. O resultado disso será inevitavelmente o recrudescimento do pauperismo, decomposição social, proletarização da pequena burguesia, "lupenização" de vastas parcelas da classe operária e demais trabalhadores, aprofundamento das políticas de repressão policial, encarceramento em massa da juventude periférica e fechamento do regime político, como forma de controle social (o atual projeto de autonomia em relação aos estados, envolvendo as Polícias Militares e Civil é expressão deste fato).
Em suma, vivemos no Brasil a combinação dialética de diversos elementos para uma profunda explosão social e das lutas de classes. O preço a se pagar por se manter na esteira da dependência e do subdesenvolvimento, fatores estruturais do capitalismo híper-tardio brasileiro, tem sido alto demais para as massas trabalhadoras.
A revolução socialista brasileira é mais do que urgente; de fato, é uma questão de sobrevivência para nosso povo envolto ao agigantamento da barbárie, produto do capitalismo senil. Superar o mero fato existencial de estar na condição de uma "classe em si", como massa bruta para a exploração, e avançar no sentido de se constituir como um sujeito revolucionário independente, com interesses históricos próprios e um programa de transformação radical de nossa sociedade, capaz de nos colocar na condição emancipatória de uma "classe para si", é a missão mais importante de nossa época.
Construir uma vanguarda revolucionária no país, que batalhe incansavelmente para se enraizar nas massas trabalhadoras, com um programa da revolução brasileira, manejando a guerra ideológica sem tréguas contra a burguesia; e fortalecer um movimento operário, sindical e popular de base e autenticamente classista, é tarefa para agora, da nossa geração.
O capitalismo vive um beco sem saída e não tem mais para onde expandir suas forças e nem deslocar suas contradições como no passado. Os atuais acontecimentos que atingem em cheio o regime político em pleno coração do monstro imperialista, ou seja, os EUA, é reflexo dessa crise geral que como um tumor em metástase, se espalha pelo organismo social burguês como um todo. A regra do regime dos exploradores em franca decadência é a destruição em larga escala de massas humanas, forças produtivas, meio ambiente, etc. Diante de atual quadro, somente pode existir dois caminhos para a humanidade trabalhadora: revolução permanente ou barbárie permanente!
...
Realizado o Encontro Mundial da Classe Operária Antiimperialista
O
Encontro reuniu mais de 300 trabalhadores e 61 delegações dos cinco
continentes. Diversas organizações sindicais, populares e partidos operários se
fizeram presentes. Particularmente do Brasil, participaram, além da Frente
Revolucionária dos Trabalhadores (FRT), delegados da central Intersindical e do
Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Foram
organizadas duas mesas de trabalho, onde se debateu a necessidade de
impulsionar em nível internacional, um conjunto de lutas sistemáticas contra as
políticas econômicas neoliberais e os ataques imperialistas contra os povos.
Segundo o camarada Nelson Herrera, comissário geral da PCOA, “A covid-19 tem
desmascarado o capitalismo, removeu o véu. Os trabalhadores fortalecerão a
unidade para enfrentar as corporações financeiras subservientes ao
capitalismo”.
Para
o líder sindical palestino Imad Temeiza, “É necessário aumentar a solidariedade
humana em todos os níveis (...) para apoiar os povos que lutam contra os
bloqueios econômicos e o imperialismo”. Karen Jarred, militante da Coalização
de Sindicalistas Negros dos Estados Unidos e Canada, denunciando a pátria
imperialista ianque, afirmou que “O covid-19 tem exposto as verdadeiras
condições de exclusão social, em que vivem muitas mulheres, homens e crianças
da classe trabalhadora estadunidense e canadense(...)o imperialismo nos está
matando, o assassinato a sangue frio de George Floyd pôs no mapa esta situação(...)”.
O
presidente bolivariano da Venezuela Nicolas Maduro, presente no encontro, por
sua vez afirmou: “Cada povo seguirá seu próprio caminho, seus próprios líderes,
nós temos encontrado o nosso caminho, o socialismo do século XXI”. Ainda
segundo Maduro: “Ademais tentaram me assassinar por ordem de Donald Trump e as
oligarquias mundiais, porém a Venezuela está de pé, na batalha e na vitória,
seguiremos nosso caminho”.
Diversas
outras intervenções antiimperialistas e em defesa da Venezuela por parte dos
delegados operários, foram saudadas com entusiasmo. Nas mesas de trabalho se discutiu
propostas e planos de organização em nível internacional contra o imperialismo.
Além disso foi debatido projetos entorno da implementação de um ambicioso
trabalho de comunicação anti-hegemônica, para fazer frente a guerra psicológica
de quinta geração arquitetada pelo imperialismo com o auxílio da imprensa
burguesa mundial contra os trabalhadores e países alvos da sanha golpista como
Venezuela, Cuba, Irã, etc.
O
companheiro Roberto Bergoci, representando a Frente Revolucionária dos
Trabalhadores do Brasil, propôs “A formação de núcleos da PCOA nos países onde
possuímos militantes, ativistas ou simpatizantes; estes núcleos precisam ser
órgãos atuantes em seus países, divulgando através de um sério trabalho de
imprensa e comunicação, os interesses dos trabalhadores e dos povos que lutam
heroicamente contra a besta imperialista(...)que as atividades desses núcleos
sejam centralizadas, articuladas e coordenadas pelos órgãos centrais da PCOA,
afim de coordenar internacionalmente a luta revolucionária e antiimperialista”.
Ainda
segundo Bergoci, “A atual fase de completa mundialização e apodrecimento do
capitalismo, expressada nas políticas neoliberais em todo o globo, torna ainda
mais imperiosa a necessidade de os trabalhadores lutarem e combaterem o
capitalismo e o imperialismo internacionalmente(...)O internacionalismo
proletário e a revolução socialista nunca foram tão urgentes e necessários como
em nossa época de turbulências, questão decisiva mesmo para a sobrevivência da
humanidade”.
O
Encontro Mundial dos Trabalhadores foi um importante passo no sentido de
articular em nível para além das fronteiras nacionais, a luta proletária e
popular. Neste sentido, a PCOA já se coloca concretamente como uma entidade de
Frente Revolucionária Antiimperialista Internacional, algo da maior importância
para as lutas de classes da atualidade, devendo portanto, ser saudada por todos
os explorados e oprimidos do mundo.
A
Frente Revolucionária dos Trabalhadores do Brasil, no melhor espirito do
internacionalismo proletário, brinda a vitoriosa e histórica iniciativa da
PCOA, que se propõe levar adiante a grande lição de nossos mestres Karl Marx e
Friedrich Engels: “Trabalhadores de todos os países , uni-vos!”.
FRENTE REVOLUCIONÁRIA DOS TRABALHADORES / FRT/BR
É com imensa honradez e satisfação, que recebemos o convite militante, revolucionário, dos camaradas e irmãos que compõem a Plataforma da Classe Operária Anti-imperialista, entre estes estimados, estão os companheiros do Partido Socialista Único da Venezuela (PSUV) e da Central Bolivariana Socialista de Trabalhadores da Cidade, Campo e Pesca (CBST-CCP). Primeiramente gostaríamos de saudar vivamente a todos!
A Frente Revolucionária dos Trabalhadores - Brasil, tem pleno acordo com o projeto de criação de uma organização internacional de combate ao imperialismo e seus lacaios em cada país. É patente e inegável que a besta imperialista, historicamente tem contado com verdadeiros serviçais e mercenários em cada país alvo de sua sanha criminosa e de pilhagens.
Com o avanço da chamada “globalização neoliberal”, que na verdade é expressão do aprofundamento da crise estrutural do capitalismo mundial, o grande capital imperialista e seus representantes em cada nação, tem recrudescido de forma selvagem a ofensiva quase sem precedentes contra os povos.
A superexploração da força de trabalho em nível mundial; a destruição da seguridade social em diversos países; mercantilização de todas as esferas da sociabilidade humana; destruição ambiental e fome; as guerras híbridas e convencionais, e a pilhagem destrutiva contra povos inteiros, dão mostras cabais de que o regime capitalista, hegemonizado pelo imperialismo estadunidense, impõe uma verdadeira realidade de barbárie e ameaça à própria humanidade para manter sua sobrevida senil.
Os golpes de Estado de “novo” tipo, assentados nas chamadas “revoluções coloridas”, que tiveram como laboratório os países do Oriente Médio e Eurásia, conhecidas como “Primavera Árabe”, tem atingido de forma muito grave a América Latina. Haiti, Honduras, Paraguai, Equador, Brasil, Bolívia, Nicarágua e, sobretudo a Venezuela, foram ou estão sendo vítimas do avanço golpista e genocida por parte do imperialismo, que diante de sua grave crise, precisa urgentemente garantir áreas de exploração neocolonial e zonas de influência, aprofundando dessa forma o subdesenvolvimento de nossa gente.
Dessa forma, vemos que o avanço destrutivo por parte do imperialismo contra a classe trabalhadora e os países oprimidos em todo o mundo, ganha corpo e sincronia. O grande capital financeiro transnacional, responsável pelos profundos ataques neoliberais que tem gerado uma legião de miseráveis e famintos pelo mundo, somente pode ser levado adiante porque a burguesia internacional, embora as contradições em seu seio, se encontra “unificada” em torno de tal projeto anti-povo.
Para fazer frente a tal projeto imperialista de escravização global, o proletariado e os povos explorados e oprimidos do mundo precisam se lançar numa verdadeira empreitada de lutas revolucionárias internacionalmente. Na atual etapa histórica do capitalismo, marcado pela completa internacionalização das forças produtivas e sua profunda contradição com o sistema de Estados, somente a luta para além das fronteiras nacionais da classe operária, pode derrotar o imperialismo e as burguesias lacaias.
Ao nosso ver, o bastião da luta anti-imperialista atualmente é a pátria bolivariana da Venezuela. O exemplo revolucionário, combatente e solidário do presidente Hugo Chaves e de todo o povo Venezuelano, é um verdadeiro exemplo para os trabalhadores do mundo.
Não é à toa que a besta imperialista há mais de 20 anos tem sabotado e procurado aniquilar esse bravo povo de Bolívar e Chaves. Não conseguirão!
Organizar um fórum que possibilite articular, coordenar e dar estabilidade às lutas revolucionárias e anti-imperialista internacionalmente é talvez, uma das mais Hercúleas tarefas de nosso tempo.
É neste espírito internacionalista e revolucionário latino-americano, que a Frente Revolucionária dos Trabalhadores do Brasil, saúda com muito entusiasmo a iniciativa da Plataforma da Classe Operária Anti-imperialista. Desde já, nos colocamos à disposição dos companheiros e manifestamos nosso interesse em integrar a Plataforma, contribuindo desde nossas modestas, mas valentes forças. Saudações revolucionárias!
Viva o povo venezuelano! Viva a América Latina Socialista!
Roberto Bergoci. São Paulo, Brasil, setembro de 2020.
Frente Revolucionária dos Trabalhadores – FRT/Brasil
URGENTE: CAIU O GOVERNO DO LÍBANO
DIANTE DA “REVOLUÇÃO COLORIDA”
O Primeiro
Ministro do Líbano, Hassan Diab, anunciou nesta segunda feira(10/08)a renúncia
de todo o Governo, que tem sido o centro de protestos pelo manuseio de cargas
explosivas perigosas no porto de Beirute, levando à poderosa explosão que
causou mais de 160 mortos e um amplo devastação de parte da
capital.Apesar da comprovação de que as toneladas de nitrato de amônia estarem
armazenadas irresponsavelmente no porto, também existe a farta evidência de que
a explosão foi provocada por um ato terrorista de sabotagem ao Líbano,
justamente para provocar o estrangulamento e queda do governo de “unidade
nacional”, integrado pelo movimento de resistência, o Hezbolah, à ocupação
militar israelense na região. "Hoje eu anuncio a renúncia deste
governo. Que Deus proteja o Líbano", declarou Hassan, em um discurso
televisionado no início da noite. Já o presidente do Líbano, Michel Aoun,
afirmou que a investigação consideraria se a causa foi alguma interferência
externa, negligência ou um acidente.Michel Aoun enfatizou que o :“Líbano
não voltará a cair nos braços de potências estrangeiras”, sinalizando uma clara
divergência com o ex-Primeiro Ministro, que disse pretender agora se juntar aos
protestos. O Líbano atravessa uma dessas “revoltas coloridas”, protestos
dirigidos pelo imperialismo contra “adversários indesejáveis”, na grande
maioria dos casos governos nacionalistas burgueses que estabelecem algum nível
de oposição a ofensiva neoliberal das corporações internacionais do capital
financeiro. É fato que a crise econômica capitalista já vinha castigando
duramente as condições de vida da população do país, não encontrando nenhuma
alternativa de superação da crise no marco da manutenção do regime capitalista,
gerenciado pelo governo de “unidade nacional”. A única perspectiva realmente
progressista para as massas libanesas reside na revolução socialista e a
instauração de um governo realmente anti-imperialista que rompa com a decadente
burguesia maronita(cristãos pró-ocidente)que domina o país desde o século
passado, com a retirada do império Otomano.
(LBI)
***
Beirute: Acidente?
A
tragédia em Beirute no Líbano marcou esta primeira semana de Agosto em um ano
já marcado por uma série de fatos insólitos de enorme gravidade como a pandemia
do novo Coronavírus, a crise financeira global e o acirramento do conflito EUA
x China.
Entretanto,
em que pese o fato do problema no Líbano ser um fato lamentável por si só, um
fato crucial precisa ser problematizado e pegou até mesmo analistas de renome
de “calças curtas”. É comum na pressa analisar determinados fatos sem levar em
consideração categorias de análise fundamentais como as questões do poder de
difusão de informações e de apropriação dos fatos.
No
mesmo dia do incidente, em vários círculos de análise política (tanto a da
grande Imprensa monopolista quanto na chamada “Blogosfera” independente) houve
uma pressa curiosa em concluir que a explosão em Beirute se tratava de um
“desígnio divino”, ou seja, um azar muito grande que se abatia sobre os
libaneses.
Esta
postura chamou a atenção porque em que pese o fato de não haver uma investigação
ainda minuciosa dos acontecimentos, as imagens da explosão não se encaixam no
perfil de uma explosão convencional. Por mais que um acidente com nitrato de
amônia seja um risco verificado em outras partes do Mundo – inclusive no Brasil
– a explosão no porto de Beirute teve características muito próprias que
suscitam no mínimo questionamentos diversos. Além do mais, o fato da explosão
ter ocorrido no Líbano cria certamente um ar de suspense porque afinal de
contas estamos nos referindo a uma região em disputa no coração do mar
Mediterrâneo em um país vizinho da Síria e imbricado diretamente no conflito de
interesses de superpotências globais. Se a explosão tivesse ocorrido na Samoa
Americana ou na Polinésia francesa, sem querer desmerecer os habitantes destas
ilhas do Pacífico, a linha de investigação poderia não suscitar tanta polêmica
assim. Mas não é exatamente isso que quero retratar aqui e sim o problema da
apropriação do fato e sua difusão.
Duvidar
das versões dominantes é papel constante dos núcleos progressistas. O motivo de
se valorizar a criticidade é simples: quem controla os instrumentos de
comunicação de massas consegue subordinar todo o hall das coberturas
posteriores em uma voz unificada, ou seja, o fenômeno do monopólio da
informação. Cerca de 1 hora e meia após a explosão, já circulava nas principais
redes de notícias do Mundo a tese de “acidente” ou “obra do destino”, um “azar”
muito grande recaiu sobre Beirute, “rezemos todos pelos libaneses”, ou seja, a
coisa já ganhava até tons místico-religiosos. Entretanto, para bons analistas,
a leitura sentimental de natureza religiosa não costuma satisfazer – em
especial se temos em mente os fatos históricos na mão. Como historiador, sei a
importância desta Ciência para a leitura do presente. Em suma, o discurso
preponderante sobre a explosão em Beirute foi tomado de um frenesi pouco
contextualizado, em especial se tratarmos dos fatos que ocorrem no Mundo de
2008 pra cá (para usarmos uma prazo analítico menor). Eu me pergunto quem
consegue tirar um diagnóstico de “azar do destino” menos de duas horas após o
evento sem que uma investigação ocorra? Entenda que todo o conjunto de
informações que se seguiram caminharam nesta direção como principal vetor de
investigação. Por que devemos ser obrigados a acreditar? Até mesmo o Lejeune
Mirhan, conhecidíssimo professor e analista dos temas árabes no Brasil e que se
coloca no campo dos analistas críticos aderiu com extrema facilidade o discurso
de acidente no mesmo dia do evento (na mesma noite). Sua alegação partia da
observação da própria imprensa do Hezbollah que não se manifestou em torno de
questionar a natureza da explosão nas primeiras horas.
Ora, nada surpreendente! O próprio Lejeune faz questão de mencionar que o Hezbollah não costuma provocar ninguém, apenas reage e se protege em casos necessários, ou seja, mesmo um grupo considerado pelos ocidentais radical se coloca na defensiva na cobertura das informações. Isso entretanto não quer dizer muita coisa porque a análise da Geopolítica independe do Hezbollah. O Hezbollah por exemplo não previu em sua imprensa o despertar da Revolução colorida em 2011 na vizinha Síria e que culminou numa das mais brutais guerras do Oriente Médio em anos recentes.
Uma coisa que as esquerdas precisam
compreender, sobretudo as reformistas é que desqualificar interpretações
críticas e taxá-las de teorias “mirabolantes da conspiração” é um erro que a
Burguesia deseja constantemente que se cometa. Se nós fossemos seguir esta
lógica, o discurso crítico ao Golpe de Estado de 2016 no Brasil seria
considerado “teoria” da Conspiração como a própria Burguesia se esforça
diuturnamente em elaborar, num esforço que tem se provado inclusive difícil uma
vez que não só as evidências como as provas do Golpe de Estado pululam por
todos os poros, dentro e fora do Brasil. O tema do “Golpe de Estado no Brasil”
já pertence até mesmo a cursos em Universidades no exterior!
Há quem discuta
que Israel não tenha o interesse em agredir o Líbano no momento. De fato, não
há indícios de que Israel esteja envolvido no caso por motivos que se provam
óbvios, não há conjuntura política favorável local para uma agressão gratuita
deste jeito. Mas isso não significa que o Imperialismo de conjunto não esteja
interessado em bagunçar o Líbano. Um erro que vários analistas do Oriente Médio
cometem é supervalorizar o papel de Israel no jogo de tabuleiro do Médio
Oriente. Que Israel tem desempenhado um papel importante em servir de bucha de
canhão dos interesses ocidentais na região não restam dúvidas mas o jogo vai
além de Israel. E aliás, Israel é até vítima no caso porque assim como qualquer
outra nação dominada, tem um governo completamente comprado pela rede de
interesses estrangeiros e suas políticas, portanto, colocam os próprios
habitantes de Israel em constante risco. Israel é vítima também, assim como os
demais países da região.
Nada como o tempo para revelar que
as coisas no Líbano vão muito além de azar. Tão logo a poeira da explosão
abaixou e dias após, o próprio governo libanês colocou no hall de
possibilidades interferência estrangeira. Mas, para muito além disso, quase que
numa situação de auto-denúncia, manifestações tomam conta das ruas de Beirute
contra o governo e com palavras de ordem ALTAMENTE controvertidas. Ao invés de
“pão, terra e paz”, uma parte dos manifestantes exigem o retorno do controle do
Líbano pela França! Isso mesmo que você acabou de ler! Uma das palavras de
ordem como veiculado pela rede alemã de notícias Deutsche Welle deste sábado
indica que uma parte significativa dos manifestantes protestam contra o governo
central e exigem intervenção estrangeira no país. Se isso não é uma atuação de
infiltrados que buscam incendiar uma “revolução colorida” no Líbano, o que é
então? O povo libanês não quer ser colônia de ninguém. Será que a explosão
mudou a opinião dos libaneses? Claro que não, estamos diante de uma tentativa
de se emplacar uma “revolução colorida” no país aos mesmos moldes que levaram a
Síria ao conflito civil em 2011. Em jogo, interesses estrangeiros abertos e
explícitos na região no mesmo momento que uma crise global acontece onde EUA,
União Europeia, Rússia e China se acotovelam no Oriente Médio sobre o controle
de contratos tubulares de gás natural, jazidas de petróleo, rotas comerciais e
mercados consumidores em uma clássica e corriqueira disputa Imperialista já
vista inúmeras e inúmeras vezes na História recente. Devemos achar que tudo não
passa de coincidência?
Mesmo que se prove por a + b = c que a explosão foi um acidente, nos livramos então da problematização política? De jeito nenhum. Não adianta fugir, todos os fatos do chamado Lebenswelt estão subordinados a relações sociais que por sua vez são pautadas por relações de poder. O caso Líbano não é um caso encerrado como a imprensa quis transparecer no mesmo dia. O caso Líbano é um caso político que a depender do desenrolar da situação pode revelar uma nova “Guerra Híbrida” na região.
***